segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ALTURA - CONTINUAÇÃO III

Postado por Lourenço Secco

Caros leitores, depois de alguns dias impossibilitado de postar, vamos a continuação de nosso tópico. Vimos até agora alguns aspectos importantes para compreendermos o parâmetro altura do som. Vimos o significado de frequência, de tom, ruído e mescla. Nos resta agora entendermos o significado de grave, médio e agudo.

GRAVE, MÉDIO E AGUDO

Claro, eu sei que todos (ao menos para a imensa maioria) sabem, ao menos
subjetivamente o significado dessa classificação sonora. Sabemos que um contrabaixo e uma tuba são graves e uma flauta e um violino são agudos. Sabemos que o violão é mais agudo que um contrabaixo, mas mais grave do que um cavaquinho, e assim por diante. Não existe, portanto grandes dificuldades em entendermos essas categorias. O blog PRZTZ apresenta uma classificação desses campos em sete regiões em termos de frequência da seguinte maneira:

subgrave: 20 a 100 Hz.
grave: 100 a 300 Hz.
médio grave: 300 a 800 Hz.
médio: 800 a 2.8 kHz.
médio agudo: 2.8 a 4.8 kHz.
agudo: 4.8 kHz a 10 kHz.
super agudo: 10 kHz a 20 kHz.

Lembremo-nos que a medida Hz (hertz) significa "ciclos por segundo". kHz significa "mil ciclos por segundo" (k é o símbolo de fator mil para multiplicação). Assim temos nessa classificação uma abrangência de 20 Hz a 20 kHz, ou seja, o espectro da audição humana. Podemos dizer que o campo do grave vai de 20 a 800 Hz, o médio de 800 Hz a 4.8 kHz e o agudo de 4.8 kHz a 20 kHz.

continua...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Altura - Continuação II

Postado por Lourenço Secco

Como vimos não podemos distinguir no ruído uma altura determinada, uma frequência, devido ao fato deste ser uma "emaranhado" de frequências. Vimos também que a distinção subjetiva entre ruído e som é inadequada, e que partindo do ponto de vista acústico temos a distinção entre ruído - enquanto som composto de múltiplas frequências - e tom - uma frequência única distinguível. Vimos também que o som e o silêncio são a matriz de tudo o que existe na música, e se tomarmos mais uma vez a metáfora, são o yin e yang, como nos disse José Miguel Wisnik em O Som e o Sentido (podemos entender o ruído branco como a fonte de todas as frequências - de todos os tons - possíveis, sendo assim o som por excelência, o absoluto sonoro).

Existiriam muitas considerações interessantes a serem feitas sobre ruído na dimensão semiótica, histórica e simbólica da música, mas estamos nos limitando nesse momento a questão acústica.

Se o ruído é o som de altura indefinida resultante da soma de múltiplas frequências distintas, e o tom é o som de altura definida resultante de um única frequência distinta (se você é adiantadinho não se preocupe, falaremos sobre as componentes harmônicas em breve), mescla é o som que possui ao mesmo tempo ruído e tom, mesclados, como o próprio nome diz. Existem vários instrumentos étnicos e formas de execução de instrumentos modernos que utilizam a mescla como elemento musical. Temos por exemplo a mbira (kalimba ou sanza) africana, o piano preparado de John Cage e os diversos modos de execução de instrumentos tradicionais incorporando a mescla como o sax e a guitarra no rock, ou em várias peças da musica contemporânea.

Belíssima peça com Mbira executado por caçadores do Zimbabwe



Piano Preparado (Sonata nº 5 de John Cage por Inara Ferreira)



O som em suas dimensões de tom, ruído e mescla, somados ao silêncio são a matéria prima da música. Ainda no campo da altura podemos distinguir o som como grave, médio e agudo. Falaremos disso na sequência.

Continua...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Altura - Continuação

Postado por Lourenço Secco

Altura - Continuação...

A imagem ao lado é o gráfico de um ciclo de onda de 440 Hz. Isso significa que se no período de 1 segundo temos 440 ciclos, cada ciclo por sua vez tem 2,27 milisegundos (1/440). Essa representação significa o movimento de um corpo vibrante nessa frequência. Em um exemplo, a corda de um violino tocando a nota la3 (que tem 440 Hz) completará cada vibração em 2,27 milisegundos.

Aquilo que chamamos de nota musical é portanto o resultado de uma determinada frequência. Algum corpo vibrante oscila periodicamente e se sua frequência se situar entre 16 Hz a 20.000 Hz, o ouvido humano a percebe como uma nota musical.

Porém existe algo importante aqui. Normalmente o que chamamos nota musical apresenta também outro aspecto que deve ser entendido na relação entre as variantes da altura: tom, ruído e mescla.

Tom, ruído e mescla

A música apresenta sempre um problema terminológico. Como dizia Schoenberg, a música toma emprestado de outras artes, e de outros sentidos, suas expressões. Assim dizemos "textura musical", "altura dos sons", "espaço sonoro", "paisagem sonora", etc. São metáforas que as vezes ajudam, as vezes confundem. Além disso existem termos como "tom" (uma expressão emprestada das artes visuais), que possuem muitos significados diferentes na música. Por exemplo tom como intervalo musical (entre o dó e o ré existe um tom), tom como a tonalidade da peça (o tom da Sinfonia n.º 5 Op. 67 de Ludwig van Beethoven é dó menor) e tom na definição que trazemos aqui que é de som com altura definida.

Tom: som com altura definida.

Ruído: som com altura não definida.

Mescla: “ruído com altura definida”. Mescla = tom + ruído.

Quando dizemos que tom é o som com altura definida, isso significa que podemos identificar a frequência deste som, ou seja, podemos dizer que som é uma frequencia de 440 Hz, por exemplo. No ruído não podemos fazer essa distinção. Por quê?

Os termos som e ruído são, frequentemente, utilizados de diferentes maneiras mas, normalmente, som é usado para as sensações prazerosas, como fala ou música e ruído, para descrever um som indesejável como buzina, barulho de trânsito e máquinas. Na realidade o ruído é um som, e pode ser um som musical também. Essa distinção subjetiva é inadequada. Para entermos melhor precisamos da distinção física. O que normalmente se chama de som é na grande parte das vezes, dentro do senso comum, aquilo que chamamos de tom, ou seja, um som com altura definida. O ruído é um som constituído por grande número de vibrações acústicas com relações de frequência, amplitude e fase, distribuídas ao acaso. O tom é uma linha simples e identificável (olha eu recorrendo a metáforas), o ruído é um emaranhado, é o novelo de da vovó desenrolado, enrolado e embolado pelo gato. O ruído por excelência é aquilo chamamos de ruído branco, que é um tipo de ruído produzido quando se agrega sons de todas as frequências. Imagine que cada nota, cada tom seja uma linha, agora imagine infinitas linhas todas misturadas e se tem o ruído branco. Ele é "branco" porque, assim como a cor branca contém dentro de si todas as outras cores, ele contém em si todas as frequências - todas as notas, todos os tons.

Ruído Branco



Continua...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Por onde começo na música?

Postado por Lourenço Secco

A resposta é simples: pela matéria prima da música, o som. Toda a música, em todas as culturas, dialogam com sua dimensão física, com seu material, o som. As escalas, os ritmos e as harmonias estão todas lá dentro. O som é a matriz de tudo o que se faz em música, assim entendê-lo é o primeiro passo - e talvez o último também. O som e sua contraparte o silêncio, são o campo de todas as possibilidades, a matriz infinita de tudo o que existe na música. Essa relação é todo um capítulo a parte que aos poucos iremos desenvolver. Como disse John Cage, citado por Rosa Fucks, em seu livro o Discurso do Silêncio: "Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e nenhum silêncio existe que não esteja grávido de sons". (FUCKS, 1991, p 16.)

O SOM

Aquilo que chamamos de som é um fenômemo resultante do processo de percepção de vibrações mecânicas num meio elástico, geralmente o ar. Algo vibra, se transmite através do ar para o ouvido que o converte em impulsos elétricos que o cérebro interpreta como som. Por isso podemos dizer que o som é um fenômeno acústico (físico), neurofisiológico (sistema nervoso e cérebro) e psicoacústico (percepção).
O som pode se apresentar em quatro parâmetros: altura, duração, intensidade e timbre.

Altura

A altura pode apresentar três variantes: tom, ruído e mescla e pode ocupar três níveis: grave, médio e agudo. Para entendermos esse parâmetro temos que observar um conceito da acústica: o de frequencia. Geralmente é sobre esse termo que os físicos ou profissionais de áudio designam aquilo que os músicos chamam de "nota musical".

Freqüência (símbolo: f) é uma grandeza física ondulatória que indica o número de ocorrências de um evento (ciclos, voltas, oscilações, etc) em um determinado intervalo de tempo. Essa grandeza se relaciona diretamente com outra que é o período (símbolo: T), que é o tempo decorrido para uma oscilação. Desse modo, a frequência é o inverso do período. Acústicamente freqüência é a quantidade de oscilações que um corpo vibrante (por exemplo a corda de um violão) apresenta em um determinado período. Essa medida é expressa em ciclos por segundo, ou seja, a quantidade de vibrações em um segundo de tempo. Sua medida é o Hz. Quando dizemos que a nota que o diapasão toca é o Lá 440 Hz, estamos dizendo que a frequência dessa nota é de 440 oscilações por segundo. O diapasão vibrou suas hastes (ou o violão sua corda, o sax sua coluna de ar, etc.) 440 vezes em um segundo.

Continua...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Iniciando a Conversa

Postado por Lourenço Secco

Então, aqui estou eu me aventurando a compartilhar idéias e conhecimentos. No vida atual com tantas ocupações sempre nos falta tempo (nem que seja como desculpa para protelações), mas quero, apesar disto e na medida do possível, trazer informaçõe pertinentes sobre o universo do som e da música. Aqui cabe uma importante advertência aos leitores: mestre da música é você mesmo, na medida em que busque o conhecimento e o crescimento musical. Na pátria do auto-didatismo, buscamos dar nossa contribuição para uma educação musical livre, mas a responsabilidade por seu desenvolvimento é de sua própria mestria.

Na época em que comecei a estudar música era tudo tão difícil! Estudar improvisação, por exemplo, dependia de um malabarismo gigantesco de conseguir a cópia, da cópia, da cópia, de uma material que alguém havia trazido dos EUA, que tinha que decodificar (as vezes não somente traduzir a linguagem mas também converter de tablatura para partitura, de guitarra para piano, etc.) e estudar muito para absorver apenas algumas "gotas" de informação.

Hoje, ao contrário, a informação se democratizou e qualquer estudante tem acesso a um universo imenso de informações, seja através da web, ou dos diversos materiais disponíveis em vários formatos. Apesar disso tenho observado frequentemente que estes estudantes não conseguem, ou não sabem como extrair sentido dos conteúdos, quando não acontece de os materiais que estudam carecerem mesmo de conteúdo e informação, ou didática. Muitas vezes são escritos em linguagem confusa, e cheios de complicações desnecessárias. Mesmo livros escritos por músicos de renome apresentam essa carência. Isto se explica facilmente: grande parte dos músicos não possuem conhecimento de educação musical, ou seja, da pedagogia, psicologia da educação, desenvolvimento cognitivo, etc. Dos conhecimentos necessários para traduzir informações em conhecimento. Muito da música ainda é trazida de forma velada, quase como se fosse uma ciência hermética e meio inacessível, e se você conversar com grandes músicos observará que estes não conseguem explicar muito bem como fazem o que fazem e darão orientações e conselhos mais ou menos gerais e abstratos. E não é de hoje esse cenário. Lembro-me bem de que ha mais de 15 anos atrás meus alunos e amigos músicos se davam um tremendo nó na cabeça quando achavam que para improvisar precisavam aprender todos os chamados "modos gregos". Nunca me esqueço de um guitarrista que veio fazer aula de improvisação comigo e que, muito matemáticamente preciso, me disse: "Professor, me diz uma coisa, como vou conseguir aprender todos esses modos?". Eu perguntei o que ele queria dizer com isso. "Veja bem, são sete modos, correto? Então são sete modos vezes as doze tônicas o que dá 84 escalas. Considerando que temos as escalas maiores, e as três menores, natural, melódica e harmônica, são exatamente 336 escalas. Ora, se eu estudasse uma escala por dia, e supondo que eu a decorasse, só pra aprender tudo isso iria um ano. Mas na pratica tenho visto que demoro até uma semana para aprender uma escala, então veja o que contabilizei. Aprender 336 escalas a média de uma por semana demoraria quase NOVE ANOS! É impossível aprender tudo isso! O que farei". Olhem pode parecer loucura isso, mas o menino era bom de conta e se baseou numa tabela e nos princípios de um método americano famoso na época para chegar a essa conclusão. Depois dele eu vi muitos músicos com a mesma dúvida. Bom o que respondi para ele? "Se sua conta estiver correta só tenho um conselho: Desista da música!". E a conta estava correta. Dai falando nos mesmos termos dele eu disse: "Mas vou fazer uma proposta para você. Vamos fazer umas aulas e eu vou te mostrar que na verdade existem apenas 36 escalas - isto para simplificar e não entrar na consideração de que existe apenas um modo menor cuja escala é somente um pouco 'mutante', com graus que variam conforme o contexto harmônico e melódico - que abrangem tudo o que você quer - são 10% de todo esse tempo e trabalho! - e que a coisa é muito mais simples do que pintaram para você". Ele continuou e hoje é um excepcional guitarrista, excelente improvisador.

Então esse é meu objetivo, compartilhar, discutir e contribuir para descomplicar o conhecimento da música e do som em geral. Conhecimento com profundidade, mas sem teorias fantasiosas e sem lógica na prática e na história musical. Quero aqui pedir a colaboração de todos os músicos e professores que pensam da mesma forma e vêem a música de forma democrática, para que estejam livres para fazes sues posts neste blog e compartilhar esse propósito de uma educação musical livre.