Então, aqui estou eu me aventurando a compartilhar idéias e conhecimentos. No vida atual com tantas ocupações sempre nos falta tempo (nem que seja como desculpa para protelações), mas quero, apesar disto e na medida do possível, trazer informaçõe pertinentes sobre o universo do som e da música. Aqui cabe uma importante advertência aos leitores: mestre da música é você mesmo, na medida em que busque o conhecimento e o crescimento musical. Na pátria do auto-didatismo, buscamos dar nossa contribuição para uma educação musical livre, mas a responsabilidade por seu desenvolvimento é de sua própria mestria.
Na época em que comecei a estudar música era tudo tão difícil! Estudar improvisação, por exemplo, dependia de um malabarismo gigantesco de conseguir a cópia, da cópia, da cópia, de uma material que alguém havia trazido dos EUA, que tinha que decodificar (as vezes não somente traduzir a linguagem mas também converter de tablatura para partitura, de guitarra para piano, etc.) e estudar muito para absorver apenas algumas "gotas" de informação.
Hoje, ao contrário, a informação se democratizou e qualquer estudante tem acesso a um universo imenso de informações, seja através da web, ou dos diversos materiais disponíveis em vários formatos. Apesar disso tenho observado frequentemente que estes estudantes não conseguem, ou não sabem como extrair sentido dos conteúdos, quando não acontece de os materiais que estudam carecerem mesmo de conteúdo e informação, ou didática. Muitas vezes são escritos em linguagem confusa, e cheios de complicações desnecessárias. Mesmo livros escritos por músicos de renome apresentam essa carência. Isto se explica facilmente: grande parte dos músicos não possuem conhecimento de educação musical, ou seja, da pedagogia, psicologia da educação, desenvolvimento cognitivo, etc. Dos conhecimentos necessários para traduzir informações em conhecimento. Muito da música ainda é trazida de forma velada, quase como se fosse uma ciência hermética e meio inacessível, e se você conversar com grandes músicos observará que estes não conseguem explicar muito bem como fazem o que fazem e darão orientações e conselhos mais ou menos gerais e abstratos. E não é de hoje esse cenário. Lembro-me bem de que ha mais de 15 anos atrás meus alunos e amigos músicos se davam um tremendo nó na cabeça quando achavam que para improvisar precisavam aprender todos os chamados "modos gregos". Nunca me esqueço de um guitarrista que veio fazer aula de improvisação comigo e que, muito matemáticamente preciso, me disse: "Professor, me diz uma coisa, como vou conseguir aprender todos esses modos?". Eu perguntei o que ele queria dizer com isso. "Veja bem, são sete modos, correto? Então são sete modos vezes as doze tônicas o que dá 84 escalas. Considerando que temos as escalas maiores, e as três menores, natural, melódica e harmônica, são exatamente 336 escalas. Ora, se eu estudasse uma escala por dia, e supondo que eu a decorasse, só pra aprender tudo isso iria um ano. Mas na pratica tenho visto que demoro até uma semana para aprender uma escala, então veja o que contabilizei. Aprender 336 escalas a média de uma por semana demoraria quase NOVE ANOS! É impossível aprender tudo isso! O que farei". Olhem pode parecer loucura isso, mas o menino era bom de conta e se baseou numa tabela e nos princípios de um método americano famoso na época para chegar a essa conclusão. Depois dele eu vi muitos músicos com a mesma dúvida. Bom o que respondi para ele? "Se sua conta estiver correta só tenho um conselho: Desista da música!". E a conta estava correta. Dai falando nos mesmos termos dele eu disse: "Mas vou fazer uma proposta para você. Vamos fazer umas aulas e eu vou te mostrar que na verdade existem apenas 36 escalas - isto para simplificar e não entrar na consideração de que existe apenas um modo menor cuja escala é somente um pouco 'mutante', com graus que variam conforme o contexto harmônico e melódico - que abrangem tudo o que você quer - são 10% de todo esse tempo e trabalho! - e que a coisa é muito mais simples do que pintaram para você". Ele continuou e hoje é um excepcional guitarrista, excelente improvisador.
Então esse é meu objetivo, compartilhar, discutir e contribuir para descomplicar o conhecimento da música e do som em geral. Conhecimento com profundidade, mas sem teorias fantasiosas e sem lógica na prática e na história musical. Quero aqui pedir a colaboração de todos os músicos e professores que pensam da mesma forma e vêem a música de forma democrática, para que estejam livres para fazes sues posts neste blog e compartilhar esse propósito de uma educação musical livre.
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